quarta-feira, 8 de julho de 2009

As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha

A nossa casa nunca deixa de a ser. O nosso cantinho, quente, acolhedor, em que cada racha na parede tem setenta histórias para nos contar - umas ao estilo de Edgar Allen Poe outras de Margarida Rebelo Pinto (que grande arco que aqui vai). Sabemos sempre onde está TUDO, porque é o mesmo local de ontem, logicamente disposto tal mapa de estratégia militar, e nunca de vitrina de loja. Interessa esticar o braço (num ângulo perfeito de 45º) e de olhos bem fechados saí a pasta de dentes. Isto é a verdadeira estabilidade, a segurança, a garantia. NÃO está disposto de modo a ficar bonito, nem atirado sem respeito pela orientação do próximo para um canto da banheira - convenhamos que é muito pouco higiénico, ainda mais sem fechar a tampa. Tenho a certeza de que saberá a um fresco mentol e não a um misto de mentol com Fa Fresh. A porcaria que sai dos poros da pele NÃO foi fazer uma visita guiada pela única assoalhada e instalou-se a aguardar uma ligeira pressão e transporte para as nossas gengivas.
Na mesma perspectiva o secador de cabelo não ficar ligado na ficha (li algures que humidades e aparelhos eléctricos não fazem o par perfeito - mas deve ser mentira), os papéis dos pensos em cima do lavatório ou os ditos enroladinhos em papel higiénico em cima do bidé. ISSO é mais importante do que meia dúzia de cabelos no chão - eles caiem, a gravidade existe e o chão JÁ estava lá. Mas a GRANDE questão é a TAMPA DA SANITA LEVANTADA! - a eterna luta pelo domínio do espaço aéreo sobre a SANITA. Deve ser privado (fechada) ou público (aberta)? Se confunde um copo de água meio cheio em cima da bancada da cozinha, o que incomodará três vezes mais liquido dentro de uma SANITA? Em relação ao autoclismo, é questão a passar, porque sempre foi como os elevadores - cada utente que passa carrega.
E as saudades de um espelho de casa de banho com luz...? É daquelas coisas kitsch, mas necessárias. Bem sei que NÃO fazem a barba, e que fazer a depilação com recurso ao espelho fazia de ti uma Nádia Comaneci - talvez NÃO fosse má ideia, assim evitava-se menos umas das tuas eternas rivais pilosidades rasteiras. Convenhamos que estar com uma laminas -ou várias, que agora aquilo é tudo bi ou tri ou tetra-; encostada à face deslizando sobre uma substancia deslizante qual chantily para diabéticos, quase às escuras, é um autentico desporto radical, digno de programa num qualquer canal da TV por cabo.
E ter unicamente uma embalagem de shampoo? Começa-se logo bem o dia, sem nos ser exigido decisões BASTANTE importantes ainda raiou o sol. Tenho o cabelo normal ou oleoso, quero que fique com reflexos ou sem, amaciado ou não. Com isto qualquer banheira se assemelha a um Baskin Robbins.
JáÁ os perfumes, isso é diferente. NÃO, NÃO falo daquelas plantas mortas e cortadas ao pedaços, dentro de uns frasquinhos, que participaram em 22 Paris Dakar de tão secas que estão e cujo aroma, conjugada com o branco das loiças sanitárias lembram um consultório de dentista. PERFUMES! Talvez mais importantes que uma peça de roupa. Tem que existir um para cada ocasião, ou estado de espírito ( para mim hoje quero um atrevidote). Alguma coisa existe melhor do que uma pessoa nuazita e bem cheirosa? NADA!

Uma coisa tenho que admitir, o meu ego está no topo! Ontem a bateria do telemóvel acabou 4 vezes (Srs. DA Sharp, que tal um telefone para recém divorciados com mais bateria?), vou passar uma semanita à nossa colónia balnear algarvia, tenho a agenda para jantar ocupada até meio DA semana que vem (para o almoço ainda vão a tempo, depois de 2ª), convites de casa, de cama e afins...

Sinto-me limpinho, cheirosinho e pronto para mais um dia de aprendizagem

Entretanto foi muito triste estar assim com o meu filho, a contra relógio, e vê-lo a chorar e a dizer que hoje também queria ficar comigo...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

...'Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida'...

Foi assim...
Tomei a decisão (porque a isso os acontecimentos obrigaram) e coloquei todas as minhas coisas em sacos. Entrei acompanhado da fúria e saí na companhia da satisfação! Era desta, e tinha que ser eu. A mentira é mais que motivo, a desilusão impulsiona. Anos de vida em comum terminavam ali, naquele momento, naquele puxar da porta. Parecia que lá dentro ficava o passado e cá fora o futuro. Apenas penso no meu filho, abandonado a uma mulher que me agrilhoou de sentimentos e afecto durante anos. Por alguma razão esta decisão é mais custosa a nós do que a elas (SIM, JÁ POSSO DIZER ELAS!!!), ELAS ficam em casa, com o filho, o cão, o leitor de DVD, as minis bem fresquinhas e o diabo a sete. A nós tudo aquilo que puder caber dentro de uns sacos mal amanhados. Nós é que temos que refazer a vida, ELAS apenas tem que a recomeçar.

Mas isto começa logo mal: o telemóvel está sem bateria!
Tou mesmo a ver que quando a noticia se espalhar as chamadas vão para ELA e lá vem a lengalenga do 'ele é um bicho mau...' - Depois da decisão que tomei esse é o menor dos meus problemas. Neste momento não devo nada a ninguém, apenas à prol.

Fico a pensar na reacção d'ELA, será que vai perceber o porquê? Mais uma indagação que raspa a minha vontade. Lembro-me do ditado das Arábias: Quando chegares a casa bate na tua mulher, ela de certeza que saberá o porquê. Se não perceber é porque não quer ou acha que não fez nada de mal - tanto me faz, sai pelo que ela fez e não pelo que ela acha que não fez.

Mais tarde, e já de indicador pujante, remeto um SMS a dizer que passo mais tarde para ir buscar o sobejante. 3 Horas depois e nada de resposta... A indiferença no concreto é um mero prolongamento deste anos. Tenho que telefonar, pois lá dentro ficaram as chaves, tal padrão na descoberta do Brasil - no alto da duna, de forma imponente a firmar o acto - NÂO HÁ RETORNO!
Claro está que eu que não queria discussão fui bater À portada da mesma. Não sabia o porquê, mas nem apreceia interessada em saber. Deve ter sido um alivio para a contraparte. Mas como a minha mamâ me ensinou, o respeitinho é bonito e confrontei-a. Afinal era tudo mentira, mas com o desfilar das evidências, foi esmorecendo a defesa e prevalecendo a verdade.

Fui buscar mais coisas (muita coisa junta um homem ao longo de 10 anos). Despedi-me do meu filho (aí quão custosa façanha), e ela nada, refugiou-se no SEU quarto e nem uma silaba. Saí qual padeira de Aljubarrota, vitorioso mas com as mãos em sangue.

E agora um novo mundo espera por mim...

De manhã (sim, de manhã porque nós ainda nos conhecemos vai para umas linhas e cada coisa tem o seu tempo), logo pelas 6 horas fui respirar o ar do nosso oceano, brisa restauradora de emoções e desfloradora de sentimentos. Tinha um sorriso parvo nos lábios, tal jovem adolescente após a sua primeira relação.
E entre esse sorriso entra um mosquito!!!
Aqui mudei - nada de praguejar, apenas um riso e a simples constatação que um mosquito hoje sabe bem melhor do que sabia ontem.

As gaivotas voam de uma forma nova, o mar ondula no sentido contrario, o Salvador está dentro da minha cabeça ( o Dali, obviamente). Os pescadores já se movem e as suas vestes lembram-me do Hemmingway, a imagem mais pura, tranquila e terna que se pode ter de um homem. A realidade regressa, à velocidade do primeiro palavrão, mas antes disso a euforia instala-se. Um novo mundo espera por mim, uma nova realidade, seria muito achar que esta era a mesma que decidi abdicar vai para uma década. E agora, esquerda ou direita - o Calvin & Hobbs a exercerem a sua influência sobre mim - qual será o rumo a tomar? Qualquer rumo é melhor que nenhum, e o meu corpo decide que vai aportar no café mais matinal para um pequeno almoço.